Vem este título à laia da conversa que tivémos ontem quando cheguei a casa... Ainda não mal tinha tirado o casaco já ouvia,
- Compraste-me prenda para o dia da criança?
- Porquê, filho? - retorqui.
- Porque sim, porque amanhã é o meu dia, é o dia da criança e as crianças ganham prendas.
- Então filho, o que é que compraste para o pai?
- Tu já não és criança, tu és um adulto.
- Verdade, mas todos os adultos também são crianças, e por exemplo, a mãe muitas vezes diz ao pai que ele está a ser criança...
Deixei-te na sala e encetei a minha fuga para o quarto, com o objectivo de mudar de roupa para irmos jantar com os avós, mas, como todas as pequenas fugas, lá fui apanhado pela conversa de novo. Agora, já dentro do carro e a caminho dos avós, re-iniciaste,
- Sabes pai, amanhã é o dia da criança e por isso vais ter de fazer-me ou comprar-me uma prenda.
- Ai é?
- É assim e não tens mais nada a fazer!!
Ora toma para não arranjares mais uma volta a dar, aqui não há volta a dar...
Esta manhã acordaste cedo, pudera, a mãe ontem disse que te oferecia a prenda quando tu acordasses...e tu, claro, acordaste cedo.
E depois fez-se luz sobre o porquê da atitude do dia anterior..., para além de um boneco (o COISA dos Fantastic 4) ainda recebeste uma t-shirt (com motivo de piratas) e um pólo (cor-de-rosa).
Naturalmente, fiquei danado com a situação.
Sempre me deu confusão a falta de bom senso e meio termo da mãe.
Não me aborrece que a mãe te dê hoje muita coisa, porque sim, aborrece-me porque entre outras coisas eu muitas vezes deixo de dar coisas porque acho ridículo o número de coisas que te são compradas... sinto que a falta de bom senso impera e isso hoje pode produzir frases engraçadas às quais achamos graça, como a que tiveste ontem, mas amanhã quando te quiserem (ou tiverem que...) dizer não, não sei como vai ser, não sei não...
Eu quando era criança também gostava de receber a prenda do dia da criança, quem não gosta, mas uma coisa é recebermos uma prenda/lembrança dos pais, outra é recebermos prendas de cada um dos membros da família porque tem que ser e não há nada a fazer...
Havia coisa a fazer sem ser comprar ou fazer...podia, por exemplo, não te dar nada e dizer que a mãe já comprou o presente mas, uma vez que a mãe, face à expressão do meu desagrado, fez questão de vincar que aquelas eram as prendas dela, eu que oferecesse a minha, hoje vou iniciar uma tradição que manterei nos anos posteriores.
Hoje, ofereço-te um livro.
E faço-o porque és criança, porque se fosses adulto e dir-te-ia que gosto de oferecer quando calha, quando me lembro, não quando tem de ser, porque o ter de ser tira toda a piada e toda a magia ao acto de oferendar.