segunda-feira, 31 de março de 2008

Non sense - 01

Agora a mãe decidiu mudar-te as rotinas do banho, um dia disse-me:

"o D. tem de passar a tomar banho todos os dias sem excepção".

Antes deste anúncio era eu que te dava banho de manhã, depois do pequeno almoço, antes de ires para o colégio.

Após o anúncio é a mãe que te dá banho à tarde, habitualmente antes de eu chegar.

Se eu chegar e perguntar se posso dar-te banho responde-me que ela tem estado a trabalhar e por isso agora vai dar-te banho para ter tempo contigo.

Este fim de semana, no Domingo, quis dar-te banho antes de almoço, a resposta foi de que não porque ela tinha estado a limpar a casa. Perante a minha resposta "Mas eu também o estive a fazer, não?"

Disse-me que visto que me despachara mais cedo, eu já brincara contigo.

Confrontada com um,

"Mas, S. tens sido tu que lhe tens dado agora sempre o banho, todos os dias da semana, não me podias deixar dar-lhe banho agora?"

A resposta foi "Não!"

E eu respiro fundo e considero que este não é o momento de lutar.

Lutar

Um dia em conversa de adultos com a mãe ela disse-me que eu não lutava por ti.

De facto ela tem razão quando diz que não luto por ti, se se quiser referir a evitar ter de lutar com ela para ter espaço numa relação contigo, tem razão de o dizer se para ela lutar significa viver com ela infeliz porque tenho com ela um filho, tu!

Este sábado a mãe mostrava-se angustiada sobre o que te iria dizer sobre a nossa separação. Pensando que falava verdade perguntei-lhe, o porquê da angústia? E a mãe respondeu-me:

"Porque vou dizer-lhe o quê? Que quando temos dificuldades devemos desistir, não vale a pena esforçarmo-nos? Mesmo por um filho?"

Claro que isto não é uma preocupação da mãe, é uma boca ao pai, como muitas que vou ouvindo mas, a bem da minha relação contigo, vou reagindo serenamente como reagi:

"Não S., apenas tens de dizer ao D. que os pais dele deixaram de gostar um do outro, mas que quanto a ele quer o pai quer a mãe continuarão sempre a gostar dele, sempre, para o resto da vida. E, claro, esclarecer que ele não é de forma alguma responsável pela separação dos pais."

E não és, de facto...

A nossa separação aconteceu mesmo antes de tu nasceres, a nossa separação tem raízes anteriores.

Hoje a mãe mantinha-se disponível para insistir nesta relação com mais um filho... como se os filhos trouxessem amor aos casais, como se os filhos não devessem ser o fruto do amor, ou seja a consequência de um amor e não a sua causa.

Hoje procuro, à minha maneira, ter no futuro a minha familia contigo, e para se ter uma familia não precisamos de estar sempre juntos, mas há algo que deve ser considerado um mínimo, mesmo por ti.

"Hoje" a mãe recusou fazer mediação familiar para estabelecer a regulação do poder paternal, recusa que o pediatra seja consultado para que diga se a regulação que acharmos te é adequada, no fundo recusa sempre a intervenção de terceiros, a tal que sempre temeu, a tal que sempre lhe disse que o que ela pensava/sentia era um excesso, a tal que poderia dizer-lhe, por também ser a habilitada, isso não é o interesse superior da criança, não é o interesse superior do D., o teu filho.

A mãe diz-me que, a respeito do teu interesse superior, "não tens noção do que isso é, porque se o tivesses não te ias embora" (sic).

Eu respondi-lhe calmamente que não me ia embora, e que se o fizesse talvez ela agradecesse, mas eu apenas vou deixar de viver com ela, só isso, no mais vou estar cá para quem tenho de estar, para ti, porque eu a ti não te vou abandonar/deixar. Confesso que até por ela estaria se precisasse, mas acho que se a mãe precisar de algo de mim deve correr seca e meca para não ter de me pedir o quer que seja. Como diz a música dos Metallica, SAD BUT TRUE.

Infelizmente neste país, nesta mentalidade, vou ter de abdicar de pernoitar contigo muitas vezes, mas estarei muito longe de te abandonar, muito longe mesmo.

E nesta parte entra o lutar, evitarei a todo o custo ter de lutar por aquilo que considero adequado ao teu interesse mas, se tiver de o fazer farei chamando terceiros à colação, sejam os avós maternos (sim, mesmo esses, porque seguramente perceberão o que se passou e passa) seja recorrendo a instâncias que me desagradariam de todo recorrer.

Mas prometo-te filho, e uma promessa é uma promessa, que se sentir que a coisa não vai a bem lutarei por ti porque eu não serei seguramente ferreiro com espeto de pau.

quarta-feira, 26 de março de 2008

22.03.2008

LEALDADES

A mãe já te dera a sentença,

"Tens de tomar banho, vou só escolher a tua roupa e vou-te dar banho!" - ouvi eu a conversa que estavas a ter com a mãe no teu quarto.

Vieste direito a mim e em voz quase sumida balbuciaste:

"Quero que sejas tu..." - ao que respondi como se não te tivesse entendido,

"O quê D.?"

A mãe entretanto chamou-te, impedindo-te de repetir as palavras, e lá foste escolher a roupa com ela.

Entretanto passado um pouco perguntei-te:

"O que querias D.?"

Lá vieste com o mesmo ar de quem tem algo de muito pesado para dizer. Depois, baixei-me para estar ao teu nível e encheste-te de coragem para dizer baixinho, quase ao ouvido

"Pai, quero que sejas tu a dar-me banho, pentear, por o creme e vestir?"

"Ó D. e dizes isso assim baixinho porquê?" - perguntei morto de saber a resposta.

Encolheste os ombros e deitaste-te na cama como quem se esconde de algo.

"Sabes D. o pai terá todo o prazer em dar-te banho, mas a mãe disse que era ela que ia fazer isso, portanto tens de lhe pedir isso, faço-me entender?"

E depois o importante da mensagem,

"Sabes filho, lá porque tu queiras que o pai te dê banho isso não significa que a mãe fique chateada contigo, nem que a mãe ache que tu deixaste de gostar dela, é como nos dias em que me dizes que não queres dormir comigo, tu continuas a gostar de mim, não é? Não é por tu quereres dormir com a mãe que o pai acha que não gostas dele, eu sei que gostas."

Respondeste-me com um sorriso nos lábios e um sim.

"Como vês D. tu quereres que eu te dê banho não significa que a mãe não saiba que tu gostas dela, por isso se falares com ela acho que ela compreende. Vai lá!"

A conversa encheu-te de coragem e dirigiste-te à mãe perguntando-lhe se podia ser eu dar-te o banho, pentear, pôr o creme e vestir..., a mãe respondeu-te que sim e tu ficaste radiante de felicidade.

Autonomias

Ontem quando te fui pôr ao colégio estava apressado, tinha uma reunião às 9:00 horas em Palmela e eram 9:05 quando te estava a deixarno colégio. Por essa razão pedi-te para que andasses depressa para podermos ser mais rápidos e aceitaste-o.

Depois de passarmos o portão prendaste-me com uma surpresa, disseste-me:

"Pai, eu vou sozinho agora para poderes ir mais depressa trabalhar!"

"A sério filho, consegues?"

"Sim, não te preocupes!"

"Ok! Até logo, diverte-te e brinca muito..."

Fiquei depois a confirmar a entrada na zona das salas e lá fui descansado.

Hoje porque o padrinho J. está de férias lá te fui pôr ao colégio e reservaste-me outra surpresa, mesmo antes de sairmos de casa disseste-me,

"Pai hoje vou para a sala sozinho, outra vez."

"Ok, hoje só te levo até à entrada do colégio e depois vais sozinho, é isso?"

"Sim"

E chegados ao colégio lá te ajustei as alças da mochila para a colocar às tuas costas e despedi-me de ti.

Depois..., depois foi confirmar a entrada na zona da tua sala e seguir viagem com alguns pensamentos na alma.

Lembrei-me da natação, de como foi bom ver-te autónomo e que esse facto suplantou a tristeza de deixar de te acompanhar na água.

Lembrei-me de todas as vezes em que ficaste a chorar quando te deixava no colégio e partia como se o teu choro não me afectasse.

Lembrei-me de todas as vezes em que quis que este momento chegasse e agora chegados apenas posso dizer que a felicidade de te ver autónomo fez com que o sentimento de perda desaparecesse.

Sim, perda, porque por vezes é isso que sentimos quando tu ganhas autonomia, perdemos mais uma área de influência em ti, mas essa perda é boa para ti e para mim, essa conquista significa que tu és cada fez mais um ser individual, autónomo, singular e eu, eu sou "apenas" a pessoa que zela por ti e que te tenta fazer sentir todos os dia que o amor entre nós existe mesmo quando te tornas independente.

Parabéns pela conquista!

terça-feira, 25 de março de 2008

Estórias

Uma mensagem de vida que te deixo, talvez aprendizagem profissional, é que qualquer estória que envolve mais do que uma pessoa tem sempre, no mínim, duas versões. Como estas fotos que te deixo das mesmas pegadas, perceberás que a forma como as vemos muda, as pegadas são as mesmas, apenas muda o sentido em que é tirada a foto. Assim acontece com as pessoas que sendo diferentes e vivenciando as coisas de forma diferente chegam a estórias muito diferentes.

O pai e a mãe, têm duas versões da mesma estória, nenhuma é mais verdadeira, possivelmente, e assim o espero, não saberás muito de uma e outra versão...

A ti basta saber que o amor pelos filhos é incondicional, nunca desaparece.

Já o amor entre as pessoas adultas, e isto quero que o saibas, precisa de ser acarinhado, tratado, alimentado, tal como uma flor e quando não o fazemos a flor, por vezes, morre..., para sempre!

Saltar



Se há coisa boa na vida filho é saltarmos acompanhados, mas por vezes na vida também temos de estar preparados para dar esses saltos sozinhos.

Primeira vez que fizeste voar um Papagaio


Foi em 08.03.2008, com o tio L. na práia de Sta Eulália em Albufeira.

21.03.2008

DECLARAÇÃO

Depois de estarmos a almoçar com o meu padrinho o Tio L. e a tia N., de quem tu revelaste saudades antes de os veres, fomos à praia da Figueirinha, em Setúbal, depois de sairmos de lá, já montados na carroça de ferro, disseste:

“Que bom que é andar na areia e depois voltar ao carro!”

E o cansaço apenas te quebrou em Paio Pires, os Da Weasel também ajudaram à festa que fomos vivendo na deslocação até próximo de Coina. ;-)

16.03.2008

PARTILHA DA GLÓRIA

Foste correr a Mini-Maratona com a mãe e o tio L., o pai teve de ajudar uns amigos que tinham o pai no hospital e o momento também não é de vontade de estar no meio da confusão.

Depois da corrida fui ter contigo para almoçarmos em Belém, encontrei-te orgulhoso de medalha ao peito que exibias com um sorriso imenso e lindo de morrer.

Depois do almoço estendeste o braço segurando a medalha e disseste,

“Pai com todo o amor e carinho.”

“Queres que te segure a medalha?” – imaginei-te farto de a carregar.

“Não! É para partilhar contigo a medalha!”

E encheste-me de luz no coração e gostava que soubesses e sentisses que mesmo sem medalhas estarei, independentemente do resultado, nas bancadas da tua vida a aplaudir-te e apoiar-te. SEMPER.

SENSIBILIDADE

Cheguei próximo de ti empurrado pelas palavras zangadas da mãe, repetindo-me mentalmente “não vás atrás da zanga dela, não vás…”.

Aproximei-me de ti que acabaras de ligar o computador para jogares um pouco, “e hoje até estive o dia todo fora”, disseste-nos quando retornávamos de barco à margem sul e nos questionavas se podias jogar computador.

Baixei-me, para ficar ao teu nível, sempre gostei de falar contigo com o olhar ao mesmo nível… deste-me um beijo e olhando-me disseste-me:

“Pai… Diz-me, vocês vão separar-se?”

Não estava preparado para a pergunta, os instantes que fiquei sem reacção pareceram-me uma eternidade…

O jogo dos Heróis da Marvel já aparecia e as colunas de som emitiam o som do jogo, por isso, e para ter a tua total atenção, desliguei o monitor e as colunas.

Pedi-te para que me olhasses e respondi-te com uma pergunta:

“Porque é que dizes isso filho?”

Tu ao contrário de mim tinhas a resposta debaixo da língua,

“Porque sim é o que sinto, porque vocês estão zangados! Vão-se separar?”

“Não sei filho,” (menti-te) “só sei filho que mesmo que os teus pais se separem o Pai vai amar-te sempre muito e a Mãe também. E só sei que se isso acontecer a culpa não é tua.” (as verdades).

“Mas pai vais separar-te da mãe hoje?” – perguntaste porque me sabias de saída.

“Não filho, o pai hoje vem dormir a casa contigo, vou dar-te um beijinho, cruzar os braços do homem-aranha e amanhã levo-te ao colégio!”

“Prometes pai?!?”

“Claro meu filho, prometo-te”

“E uma promessa é uma promessa, não é pai!”

“É filho, uma promessa é uma promessa!”

Felizmente não me pediste para prometer que não me separava da tua mãe, porque se o fizesses a única coisa que te podia dar era silêncio ou prometer que isso era o que eu ia fazer!...

11.03.2008

TRABALHO DE VERÃO

No final de uma refeição farta em que íamos comer gelado viste-me colocar um pouco de gelado dentro do café e fizeste uma cara estranha acrescentando, “O que é que estás a fazer pai?”


“Estou a fazer um café afogato, que é por gelado dentro de um café. Sabes que antes o pai teve um trabalho em que fazia muitos cafés afogatos?” – perante a estranheza da expressão continuei – “Pois é o pai quando estudava trabalhou no Verão na Costa da Caparica a vender gelados!”

Com uma cara cheia por um sorriso disseste-me,

“A sério pai?!?”

“Sim filho, já trabalhei a vender gelados.”

Depois a tua cara mudou de expressão e perante uma cara preocupada perguntaste:

“Quando é que perdeste o emprego?”

Lá te expliquei que o trabalho que em tempos tive foi apenas um trabalho de Verão que tinha durante dois meses e meio, e o fazia para ter dinheiro para comprar coisas para mim.


DESEJO

“Quero ficar como o Astérix com aquela miúda gira.” – referindo-te ao filme Astérix e Obélix – Missão Cleópatra.

“E já encontraste alguma miúda bonita como aquela do filme?”

“Sim, a M.”

T.P.C.

Esta era a sigla dos denominados Trabalhos Para Casa, ou seja, exercícios/trabalhos que os professores gentilmente nos mandavam fazer em casa para depois mostrar no dia seguinte.

Agora voltei a ter TPC, não que tenha um professor como hoje me perguntavas quando te disse que ia atrasado para uma reunião e afirmaste "E o teu professor vai ficar zangado?" pois é, o pai já não tem professores de profissão, professores nas coisas da vida ainda tenho muitos e espero nunca deixar de ter, mas não perdendo muito o fio à miada, agora também escrevo os textos das tuas presenças em casa e portanto quando os coloco aqui já vão um pouco desfazados no tempo..., mas importante é manter este sítio vivo, agora, e cada vez mais, mais do que nunca.

Os Posts seguintes serão pois já de algum tempo...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Parabéns...

...à bisavó V., mãe do avô R., que ontem fez 81 anos.

Recorte e desejo

O RECORTE

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

João Pereira Coutinho, jornalista

O DESEJO

Que saiba ter a sabedoria, a sensibilidade e a arte de ajudar-te a procurar um caminho diferente, mas que te faça feliz.

Um caminho diferente como aquele que eu trilho, espero que os meus actos, de separação eminente da mãe, que um dia te provocarão sofrimento, te demonstrem que por vezes vale a pena trilhar o caminho menos percorrido.

Desejo que um dia me olhes nos olhos, numa daquelas conversas de olhos nos olhos e me dês um espelho de alma feliz, porque acredito que, mesmo não vivendo o dia-a-dia contigo, poderei continuar a estar ao teu lado.

Mas o meu desejo principal é o de que nunca deixes de sentir o quanto te amo, por mais distante que possamos estar.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Update

Isto o tempo do pai tem estado apertado, mas recordei-me de vir aqui deixar umas breves:

Ando com vontade de escrever-te aqui parte do que sinto e não te posso dizer hoje de viva-voz, nem sei se algum dia deverás saber o que se passou, no fundo muita coisa decorre hoje sem que tu te apercebas, coisas que me apetece deitar para fora. Este sítio criei-o para falar contigo de uma outra forma, para me auxiliar a recordar momentos que os afazeres do dia a dia acabariam por apagar desta mente turbilhante, mas dar-lhe-ei esta vertente também se sentir necessidade dela...

Ficaste bem de saúde na sexta passada, porra já passou quase uma semana.

No fim de semana fomos ao Algarve acompanhados do L. da L e da C.

Do fim de semana e em termos muito abreviados:

  1. foi bom ver-te interagir com a C.;
  2. foi bom ver que tens uma educação sopimpa;
  3. a C. passa a vida a fazer fitas e amuos até mesmo quando a impedem de dar cabeçadas em vidro;
  4. tens sorte com os pais que tens que te dedicam muito tempo;
  5. temos sorte com o filho que és;
  6. definitivamente não há sorte entre o pai e a mãe, e a mãe atingiu isso este fim-de-semana, tive de levar com a zanga dela e com um rol de acusações que não fosse estar muito bem comigo, com a minha consciência e ciente de onde tenho responsabilidade nos nossos problemas, a conversa dava chapada, assim deu uma tristeza enorme e a confirmação de que estamos tão longe, tão distantes um do outro e a mãe do que eu sou. Mas talvez a mãe precise da zanga comigo para não ter que olhar para o umbigo, para ela sempre foi mais fáil apontar dedos do que parar e dizer "Aqui fui eu também!".

Os dias sucedem-se sempre comigo a trabalhar e a tentar ter tempo contigo, não é fácil porque face ao estado das coisas a mãe decide ocupar espaços e eu, tentando evitar confrontos, ou mesmo chamadas de atenção para comportamentos que considero menos felizes, vou-me mantendo à margem.

Entre os comportamentos menos felizes inclui-se o dormir a noite inteira contigo e o estar sempre colada a ti, em atitudes excessivas em relação ao que sempre fez, o resultado prático está aí e eu já o previa, nos últimos dois dias de manhã choras quando a mãe vai trabalhar porque a queres, coisa que não acontecia seguramente há bem mais de um ano... mas a mãe deve ter um gosto qualquer por assistir a isso, talvez seja porque a mãe confunde há muitos anos amor com dependência. Eu tenho muito amor por ti, muito mesmo, mas não te quero dependente de mim.

Acho que a falta de bom senso e sensibilidade, acrescendo à incapacidade de entender que tu não és a muleta emocional dela, o que neste momento és e só não vê quem não quer, fazem com que eu ande a sofrer calado esta nova fase... a sofrer para não dizer o que sinto e intuo, porque diga o que eu disser a mãe não está preparada para me ouvir, não tem capacidade para ouvir... e isto preocupa-me muito na tua educação porque se há coisa que eu acho que conquistei para ti, se calhar à custa da minha relação, foi trazer bom senso e sensibilidade à tua educação, tentando acabar com os excessos... mas isto sou eu que sinto e intuo, merda que a minha intuição raramente se engana...

Agora que é eminente, e a mãe depois de algum tempo já o sabe também, dizia, agora que é eminente o fim da relação em vez de manter o que já se conquistou da tua autonomia mina-a com um colar a ti, com um tornar-te dependente dela que ela declara de boca cheia que o que eu tenho é ciúmes, sim porque para a mãe o meu problema é de ciúmes, e a merda é que ela nunca entendeu, porque também não está preparada para tal claro, nunca entendeu que eu nunca quis ser filho dela, bem como não quero que ela te trate como namorado dela, como diz o povo cada macaco no seu galho.

O problema, e o que dói, é saber que no futuro o meu sítio não será na mesma árvore em que tu estarás, será noutra e por muito que eu reserve toda a rama da árvore para os dias em que tiveres comigo, a realidade é que nunca, mas nunca será o mesmo, um dia nunca mais vou poder partilhar o dia-a-dia contigo, terei dias, vários, claro, mas aquilo porque lutei, aquilo que idealizei morreu!

O que nunca morrerá será o que sinto por ti, o meu empenho por ti, a minha presença junto de ti, o tudo fazer para que um dia também me possas dedicar um livro e que essa dedicatória seja semelhante à de um livro (romance) de nome "Pai ao domingo" em que o Autor dedicou o livro aos seus pais a quem agradeceu o facto de se terem separado, e ao pai em particular por este ter entendido que ser pai ao domingo é uma profissão a tempo inteiro.

Filho, tudo na vida tem um tempo, um prazo, às vezes é necessário deixar o tempo passar para que determinadas coisas façam sentido, outras se revelem, espero que o tempo um dia te demonstre que foi por te amar, a ti e só a ti incondicionalmente, foi por te amar como amo que um dia te deixarei com a mãe.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Conversa

O avô Z. foi tomar conta de ti, eu fui almoçar convosco, verifiquei que estás sem febre, mas como estás medicado... vamos agora deixar a medicação para ver se a febre te ataca e logo actuamos para ver se temos de ir ao médico ou não.

Depois de almoço, cuja fruta foi manga o avô Z. lá se pôs a falar dos tempos em que esteve em Moçambique.

Tu perguntaste onde é que era Moçambique, lá te disse que era um país de África e que tinha sido é que o avô tinha estado na guerra.

"A sério?" - perguntaste-me respondendo eu com um aceno de cabeça - "E avô lá na guerra morreu alguém?".

"Sim, nas guerras morrrem sempre pessoas." - respondeu o avô.

"E morreu alguém que tu conhecias?"

"Sim, morreu o meu melhor amigo."

"E como é que ele chamava?"

"Cunha, .... Cunha"

" E sabes como é que ele morreu?"

"Foi numa emboscada, houve uma granada que explodiu e o matou."

"Avô... e tu mataste alguém?"

"Não sei se matei ou não, quando eu disparava não sabia se os atingia ou não!..."

E depois tratei de levantar a mesa, pelo que, apenas me apercebi que a temátic se manteve uns bons 5-10 minutos, mas com uma conclusão muito simples, "a guerra é uma coisa muito má!"

foi

segunda-feira, 3 de março de 2008

E a culpa...

... é das amígdalas outra vez.

Telefonema

"Podes cá vir agora, o D. está com 39ºC de febre e a subir, precisa de levar um supositório".

Estas pequenas frases fazem com que um pai se sinta importante, apesar de ser algo tão "modesto" fico agradado de saber que o meu carinho e amor também têm repercursão na forma como enfio supositórios.

Agora longe de qualquer humor, encontrei-te com a pior cara que a minha memória registou até hoje, de olhos fechados, a face rosada, uma expressão puxada pela dor, uns murmúrios que eram a exteriorização da dor e mau estar que sentias...

Deixei-te com a mãe com o desejo de melhoras e tu de tão desnorteado que estavas apenas balbuciaste o mesmo, "as melhoras"...

Conversas de baloiço - 2008.03.02

  • Lingua estrangeira

"Pai, ensinas-me Inglês?"

"Claro filho, já o faço há muito tempo por isso sabes as cores, sabes contar, sabes dizer olá, adeus, sabes o dizer o teu nome e idade."

"I'm four years old." - respondes-me.

"Vês, já sabes muitas coisas e se quiseres saber mais pede que eu ensino-te."

  • Idade

"Sabes filho o pai este ano vai fazer 32 anos!"

"32?" - e com a minha confirmação gestual enches-te num sorriso - "cinco, seis, (...contando...) trinta e um, trinta e dois. Tantos!!... mas não estás velho pois não pai?"

"Não filho, estou como tu me vês e não estou velho pois não?"

"Quando eu tiver trinta e dois anos tu terás quantos?" - aqui pensei convidar o Sr Guterres para me ajudar a fazer as contas, mas pensei que eu até deveria ser capaz de o fazer sozinho... noves fora nada...

"59!"

"Já estás velhinho?"

"Vou estar como o avô R., achas que o avô R. está velhinho?"

"Não...(pequena pausa) e vais ser careca como o avô?" - :)

"Acho que sim! Porque estou a perder muito cabelo aqui." respondi mexendo no alto da cabeça, local onde os rapazes (lê cabelos) teimam em se suicidar.

O teu semblante fechou-se e ficaste com um ar triste, pelo que resolvi dizer,

"Mas filho, se o pai ficar careca continuo a ser o mesmo só que sem cabelo, não é?" - o sorriso reapareceu e com ele um gesto confirmativo da cabeça.

"Já está!"

Quando habitualmente dizes esta frase, seguida de um sorriso, significa que estás doente e acabei de exercer a minha função de aplicador oficial de supositórios, ou como lhes chamamos na gíria caseira, mísseis. A relutância inicial em colocar um míssil balístico para dar cabo doss bichos maus é um clássico, assim como a reacção final e a confirmação de que não doeu nada.

E esta noite passaste mal, tudo aponta para uma infecção urinária que vamos ver se se confirma daqui a pouco... quando apliquei o supositório estava tão anestesiado que de manhã nem me lembrava de já ter exercido essa função durante a noite. Apenas disse, "Porra, pensava que tinha sonhado..."