quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Estaleiro

Estás de estaleiro por causa da varicela.

Há dez dias que estás ininterruptamente em casa.

Estás quase a poder voltar a ser criança na plenitude, com direito a rua, brincadeira, amigos, piscina...

Vem-me à memória a primeira vez que te dei banho após a erupção das diversas borbulhas... Causou-me imensa impressão sentir uma pele até então lisa e suave, totalmente pejada de borbulhas...

Enfim, nem tudo foi/é mau, recordo com prazer o quanto foste paciente e não te coçaste (tiveste direito a uma medalha enorme feita pela mãe, merecida).

Estás a caminhar depressa para os quatro anos, os teus diálogos são impressionantes na riqueza de vocabulário e na excelente expressão oral que tens... e por expressão oral lembro-me de teres dito um "PORRA" do tamanho do mundo quando estavas por estes dias farto da comichão... tive de fazer o meu papel "Filho há outras formas de demonstrares o teu aborrecimento que não essa, essa não deves usar!" e no fundo sorria por dentro face à forma e face ao momento que te motivara a expressão.

Recordo também as diferenças de épocas, ou não... quando havia doenças infantís no meu tempo de piqueno os pais quando sabiam que havia uma criança com uma doença infantil (varicela, sarampo, papeira) juntavam as outras crianças para que estas apanhassem com a dita doença infantil e ficassem despachados...

Quando propus isto à mãe, para te levarmos há cerca de dois meses à casa da C. porque ela estava com varicela, a resposta foi "vamos esperar q tenha idade -x que depois há vacina" ou "deixa lá isso que se não panhar melhor"...

Reflexo dos tempos protectores, ou da maternidade protectora, não sei.

E eu penso como os meus pais pensaram, se têm de apanhar, então apanhem quanto antes para que fiquem despachados.

Agora bem vista a coisa talvez os avós o fizessem para poderem por uma baixa médica e baldarem-se ao trabalho, ou não..., mas eu e a mãe não temos direito a por baixa...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Reacções à TV

Ontem, por acaso, à noite enquanto te vestia o pijama e a mãe fazia o fato de carnaval, liguei a TV num canal de música.

Apesar de não ser hábito vermos TV, liguei-a num canal de música porque gostas e estávamos entretidos a ouvir/ver as músicas/telediscos.

A dada altura disseste enquanto abanavas a cabeça:

"ESTOU A CURTIR BUÉ DOS TIPOS"

Viamos/ouvíamos então os U2 com os Greenday...

Pouco depois mudou de música e a vocalista da banda era uma mulher bem gira e, vai daí, proferiste uma afirmação ainda mais inesperada:

"APETECE-ME COMÊ-LA"

:-)

Perante esta afirmação de masculinidade, a mim apeteceu-me rir, mas a mãe adiantou-se nos comentários e logo te disse que "as pessoas não se comem". E eu para manter a unidade educacional lá me calei apenas esbuçando (face ao olhar repreensivo da mãe): "acredita que nunca me ouviu dizer isto".

Mas filho, aqui entre nós, eu também a comia... ;-)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Dia dos Namorados

Há muito tempo que dizes namorar com a A., sinceramente já nem me lembro há quanto tempo.

Uma vez disseste-me que já não gostavas da A. e tinhas passado a namorar com a I., mas foi sol de pouca dura, voltaste à A.

Esta semana descobri duas coisas.

A primeira, descobri nas pinturas que vocês fizeram no colégio, que tu aparecias nas pinturas de quase todas as miúdas e muitas delas descreviam-te como o namorado delas. Uma diz à mãe que tu és o namorado dela porque sorris para ela. E eu sei o quanto o teu sorriso é bonito.

A segunda, disseste ao avô paterno que a A. te dissera já não querer casar contigo, mas sim com o D., e isso motivou-te um amplo sentimento de tristeza porque tu querias casar com ela.

Ontem era o dia dos namorados e, ao contrário do que é habitual, fui apanhar-te ao colégio. Não me contive em perguntar-te se sabias que era o dia dos namorados e se por essa razão deras um beijo à A.

Fiquei satisfeito em ouvir que sim, que lhe deras um beijo e que já namoravas com ela outra vez.

Ainda bem que o teu dia dos namorados foi bom. Esqueci-me de perguntar se alguma outra miúda te dera um beijo também...pergunto-te hoje.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

E de repente...

Vindo do nada passei a ser necessário para tudo e mais alguma coisa.

Antes era, "Eu quero a mãe", "A mãe é que sabe", "Não te quero aqui", "A mãe é que lê", etc, etc.

E se eu digeria isto com alguma dificuldade emocional, racionalmente compreendia-te, aceito-o e sempre pensei que um dia a coisa mudaria.

E parece que começou a mudar, desde sexta-feira e até hoje foi, "O pai é que vai comigo", "O pai é que sabe", "O pai é que lê", "Eu quero o pai"... e mais não sei quantas afirmações de preferência da minha pessoa em detrimento da mãe.

Resultado... a mãe ressentiu-se, já andava amargurada e quanto mais tentava que tu lhe ligasses, mais tu dizias, "O pai".

Acho que aqui reside a técnica, deixar-te decidir aguardando serenamente que vejas que gosto sempre de ti, quando me ligas e quando me dizes "Quero a mãe".

Não sei se isto durará muito mais, mas certo foi que o meu espanto se misturou depois com um sentimento de encanto, e me deu para escrever um post aqui neste canto.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Quero mais legumes...

Uma afirmação que te saiu numa das nossas recentes refeições (peixe grelhado com vegetais, leia-se batata, cenoura e feijão verde cozidos).

Felicito-te mentalmente pelo facto e expresso-o de seguida dizendo-te: "parabéns filho por gostares de legumes, há muitos meninos que não comem legumes".

É certo que a nossa educação contribuiu, mas tenho para mim que tivémos uma ajuda grande. Creio que o facto de existir uma cena do Homem-Aranha 2 (tu és fã do SPIDER-MAN), na versão dobrada em português, em que o Peter Parker esclarece uns miúdos que conseguiu fazer um salto XPTO porque come sempre os legumes... deve ajudar...

:-)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Um irmão...

Eu sabia que mais tarde ou mais cedo a questão viria ao de cima.

E tu nem foste meiguinho nem nada.

Íamos com um terceiro no carro a caminho de te deixar com a mãe enquanto o pai ia fazer desporto e tu inicias a coisa assim:

  • "Sabes pai..."
  • "Sim..."
  • "Sabes pai..." (e face à pausa olhei para trás vendo-te a brincar com as mãos em circulos como quem espera um toque para sair do momento que considera confrangedor...)
  • "O que é filho?!?"
  • "Sabes pai...há algum tempo..." (impaciente logo te interrompi)
  • "Diz filho! O que é?"
  • "Sabes há algum tempo que tenho uma coisa para te dizer..."
  • "O que é?!?"
  • "A mãe disse para te dizer, disse para falar contigo..."
  • "Sim, e o que é?"
  • "Sabes pai eu quero um irmão." (Dasss, momento para rir interiormente e ao mesmo tempo pensar como fugir da pergunta...decidi ir directo ao assunto)
  • "Ok filho, mas o pai tem de decidir isso com a mãe. Acresce que, pode não sair um irmão, mas sair uma irmã, também podia ser uma irmã?"
  • "Não pai!! Eu quero um irmão!"
  • "Mas filho o pai e a mãe não podem escolher!"
  • "Pai, pai (disseste entusiamado por teres a resposta para o meu problema) metes uma semente de irmão!"

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A morte ao pequeno almoço

Depois de um despertar chato e de arrelia com a tua mãe, antes de acordares, lá ficámos depois os dois a tomar o pequeno-almoço.

A dada altura perguntaste-me:

  • "Quando é que tu morres?"
  • "Não sei filho, ninguém sabe, mas estou certo de que ainda falta muito tempo."
  • "E posso morrer contigo?"
  • "Poderias se tivéssemos os dois um acidente muito grave. Sabes, até podiamos morrer os três: tu, eu e a mãe. Mas, o pai por exemplo quando conduz, conduz sempre com muita atenção. Assim, não vai acontecer." (espero eu!)

Ficaste satisfeito com a explicação e passámos uns bons momentos juntos antes de ires para o Colégio.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O F. que morde...

Pois é o post anterior fez-me lembrar esta figura da tua sala.

Quando foste para o colégio o F. era mais pequeno que tu.

Mas, o F. mordia a torto e a direito todas as crianças, logo também tu eras mordido.

E queixavaste da situação.

Foi aí que pai e mãe passaram a incentivar a "legítima defesa". Diziamos com frequência para não te deixares ficar para trás e para reagires batendo no F.

Quando chegavas ao colégio e vias o F. encolhiaste logo e querias esconder-te atrás de nós.

Até que...

Até que um dia te encheste de coragem abriste os braços e gritaste ROAAAAAAARRRR.

O F. encolheu-se e jamais voltou a morder-te.

E eu fiquei todo orgulhoso.

;-)

Legítima defesa

Foi das últimas expressões que aprendeste, dada pela mãe, e porquê?

Porque um dia destes chegados ao Colégio fomos informados pela Educadora que deras um pontapé na cara do I., colega do colégio (um rúfia de primeira que bate a toda a gente e só está bem a arranjar confusão) pontapé que deste aproveitando o facto de ele estar no chão.

Felizmente não houve consequências para o I.

Mas o I. andava a merecê-las a única coisa que fizeste mal foi dares sem ter apanhado.

Nós bem te dissémos, desde cedo, para retribuir sempre na mesma moeda, ou seja, para não te deixares comer por parvo, mas sempre como forma de reagir à agressão ou para a evitar.

Claro que isto é complicado de gerir para ti, mas mal ou bem sempre te foste safando e reagindo bem, até há dias.

Eu, por dentro, quando soube não deixei de me rir, mas não te o pude mostrar. Aqui posso dizê-lo e não posso deixar de dizer que até me senti orgulhoso por lhe teres chegado ao pêlo.

Mas, repeti o que a mãe já te dissera, se bateres em reacção ou para evitar apanhar, tens o nosso apoio, se fores tu a bater sem ser pelos motivos indicados os pais não te apoiam e ficam mesmo chateados.

Entrenato uns dias depois disseste-me:

"Pai o A. beliscou-me e empurrou-me e eu bati-lhe em legítima defesa".

Depois de esboçar um sorriso disse-te

"Ok, se foi em legítima defesa fizeste bem, amanhã depois pergunto à R. (a Educadora)!"

"Não, não pai,... não fales com a R. ..."

:-))

E foi assim que compreendi que o conceito apreendeste-o mas, os actos que praticaste ainda não estão adequados ao conceito. Lá te demos outra lavagem sobre quando podes arriar nos colegas do colégio.