quinta-feira, 13 de março de 2008

Update

Isto o tempo do pai tem estado apertado, mas recordei-me de vir aqui deixar umas breves:

Ando com vontade de escrever-te aqui parte do que sinto e não te posso dizer hoje de viva-voz, nem sei se algum dia deverás saber o que se passou, no fundo muita coisa decorre hoje sem que tu te apercebas, coisas que me apetece deitar para fora. Este sítio criei-o para falar contigo de uma outra forma, para me auxiliar a recordar momentos que os afazeres do dia a dia acabariam por apagar desta mente turbilhante, mas dar-lhe-ei esta vertente também se sentir necessidade dela...

Ficaste bem de saúde na sexta passada, porra já passou quase uma semana.

No fim de semana fomos ao Algarve acompanhados do L. da L e da C.

Do fim de semana e em termos muito abreviados:

  1. foi bom ver-te interagir com a C.;
  2. foi bom ver que tens uma educação sopimpa;
  3. a C. passa a vida a fazer fitas e amuos até mesmo quando a impedem de dar cabeçadas em vidro;
  4. tens sorte com os pais que tens que te dedicam muito tempo;
  5. temos sorte com o filho que és;
  6. definitivamente não há sorte entre o pai e a mãe, e a mãe atingiu isso este fim-de-semana, tive de levar com a zanga dela e com um rol de acusações que não fosse estar muito bem comigo, com a minha consciência e ciente de onde tenho responsabilidade nos nossos problemas, a conversa dava chapada, assim deu uma tristeza enorme e a confirmação de que estamos tão longe, tão distantes um do outro e a mãe do que eu sou. Mas talvez a mãe precise da zanga comigo para não ter que olhar para o umbigo, para ela sempre foi mais fáil apontar dedos do que parar e dizer "Aqui fui eu também!".

Os dias sucedem-se sempre comigo a trabalhar e a tentar ter tempo contigo, não é fácil porque face ao estado das coisas a mãe decide ocupar espaços e eu, tentando evitar confrontos, ou mesmo chamadas de atenção para comportamentos que considero menos felizes, vou-me mantendo à margem.

Entre os comportamentos menos felizes inclui-se o dormir a noite inteira contigo e o estar sempre colada a ti, em atitudes excessivas em relação ao que sempre fez, o resultado prático está aí e eu já o previa, nos últimos dois dias de manhã choras quando a mãe vai trabalhar porque a queres, coisa que não acontecia seguramente há bem mais de um ano... mas a mãe deve ter um gosto qualquer por assistir a isso, talvez seja porque a mãe confunde há muitos anos amor com dependência. Eu tenho muito amor por ti, muito mesmo, mas não te quero dependente de mim.

Acho que a falta de bom senso e sensibilidade, acrescendo à incapacidade de entender que tu não és a muleta emocional dela, o que neste momento és e só não vê quem não quer, fazem com que eu ande a sofrer calado esta nova fase... a sofrer para não dizer o que sinto e intuo, porque diga o que eu disser a mãe não está preparada para me ouvir, não tem capacidade para ouvir... e isto preocupa-me muito na tua educação porque se há coisa que eu acho que conquistei para ti, se calhar à custa da minha relação, foi trazer bom senso e sensibilidade à tua educação, tentando acabar com os excessos... mas isto sou eu que sinto e intuo, merda que a minha intuição raramente se engana...

Agora que é eminente, e a mãe depois de algum tempo já o sabe também, dizia, agora que é eminente o fim da relação em vez de manter o que já se conquistou da tua autonomia mina-a com um colar a ti, com um tornar-te dependente dela que ela declara de boca cheia que o que eu tenho é ciúmes, sim porque para a mãe o meu problema é de ciúmes, e a merda é que ela nunca entendeu, porque também não está preparada para tal claro, nunca entendeu que eu nunca quis ser filho dela, bem como não quero que ela te trate como namorado dela, como diz o povo cada macaco no seu galho.

O problema, e o que dói, é saber que no futuro o meu sítio não será na mesma árvore em que tu estarás, será noutra e por muito que eu reserve toda a rama da árvore para os dias em que tiveres comigo, a realidade é que nunca, mas nunca será o mesmo, um dia nunca mais vou poder partilhar o dia-a-dia contigo, terei dias, vários, claro, mas aquilo porque lutei, aquilo que idealizei morreu!

O que nunca morrerá será o que sinto por ti, o meu empenho por ti, a minha presença junto de ti, o tudo fazer para que um dia também me possas dedicar um livro e que essa dedicatória seja semelhante à de um livro (romance) de nome "Pai ao domingo" em que o Autor dedicou o livro aos seus pais a quem agradeceu o facto de se terem separado, e ao pai em particular por este ter entendido que ser pai ao domingo é uma profissão a tempo inteiro.

Filho, tudo na vida tem um tempo, um prazo, às vezes é necessário deixar o tempo passar para que determinadas coisas façam sentido, outras se revelem, espero que o tempo um dia te demonstre que foi por te amar, a ti e só a ti incondicionalmente, foi por te amar como amo que um dia te deixarei com a mãe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei triste. Acredita!
Não sei que dizer. Desculpa.
Abraço.Pedro

Mãe do Outro Mundo disse...

Há uma cena no "Casamento do Meu Melhor Amigo" em que a Julia Roberts está sentada a chorar no corredor de um hotel. Está a fumar e aparece um paquete que lhe diz que aquele andar é de não-fumadores. Ela lá convence o fulano a sentar-se e a fumar com ela. Quando ele se afasta lança uma frase: "My grandmother always said, 'This, too, shall pass'."

E a certeza de que estás a fazer o melhor por ele, dar-te-á força para seguires o rumo certo e, um dia - pode demorar anos, prepara-te - será ele a dizer-te que não só compreende os teus motivos como te admira.

Beijos