terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mau presságio

Ontem fui apanhar-te ao colégio, a mãe ficou a trabalhar no turno da tarde por ter de ir à segunda fase do concurso para o novo emprego.

Quando cheguei andavam todos no recreio a brincar.

Tentei encontrar-te para ver como andavas a interagir com os demais, ver-vos brincar sem que vocês nos vejam é delicioso... mas, desta vez, não te via.

Por essa razão, fui-me aproximando de locais onde eu seria visível aos demais colegas. Por essa altura vi-te acompanhado de mais três rapazes debaixo de uma estrutura que ali existe para brincarem.

Quando os teus colegas me viram desataram a dizer, qual vigilantes de um bairro manhoso que vê a polícia chegar, "Olha o teu pai D., olha o teu pai!"

Fiz um compasso de espera na expectativa de que saísses de lá, como aliás é frequente fazeres, e desatasses a correr direito a mim de braços estendidos... (como é bom quando o fazes)

Mas não!

Permaneceste imóvel, vi-te baixar a cabeça, por as mãos nos olhos e no mesmo instante os teus colegas gritaram-me "O D. está a chorar, o D. está a chorar!"

Lá fui calmamente ter contigo e quando cheguei percebi o que se passava:

"Eu queria a mãe. Eu queria a mãe. Eu tenho saudades da mãe..." e entre as afirmações o choro, próximo do da birra, mas diferente, um choro de lamento, um choro de dor emcional.

Fiquei pequenino, mais do que tu... o meu coração ficou esmagado e senti ali que esta ia ser a dor que muitas vezes irias viver e que muitas vezes te irei provocar.

Enchi-me de amor inspirando o maior número de ar possível e tentei fazer-te sentir que eras amado, fazer-te crer que a mãe continuava a gostar de ti, que apenas teve de trabalhar à tarde, que apesar de não estar ali ela te amava.

Depois, perguntei-te se te podia abraçar, disseste que sim.

Abracei-te e quis ali mostrar-te que mesmo sem mãe és amado, seja por mim, seja por ela.

Depois estiveste bem, muito bem mesmo como é habitual, divertimo-nos até irmos apanhar a mãe ao trabalho mas, em mim ficou uma dor, uma tristeza, que apesar de não abalar a minha harmonia com as decisões que vou tomando no dia-a-dia, me fizeram sentir tão pequeno.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo! Parabens!
Acredita que ao ler o teu texto fiquei todo arrepiado.
São momentos "complicados", "dificeis", mas nós, pais (nesta situação), temos que saber dar a volta por cima, embora nos sintamos pequeninos.
Abraço.Pedro

Maria disse...

Doeu-lhe mesmo...:) Mas ainda bem que depois "lhe conseguis.t dar a volta".
um beijinho.