domingo, 6 de abril de 2008

28.03.2008

Neste dia o pai e a mãe tinham um compromisso comum, por isso fomos pôr-te ao colégio juntos.

Dois dias antes começaras a ir sozinho para a sala, deixo-te aqui, no portão, mala nas costas e lá vais tu sozinho o resto do percurso.

Perguntei-te, "Então vais sozinho?", respondeste afirmativamente de sorriso nos lábios, a mãe olhou-me com ar de censura e depois lá foste com um passo rápido, braços no ar, sorriso nos lábios, nem olhaste para trás no caminho.

A mãe ora olhava para ti com ar preocupado, ora olhava para mim com um ar de quem pudesse batia-me.

"Vamos?"

"Não concordo com isto! Isto não pode ser assim! E se lhe acontece alguma coisa!"

"Mas acontecer o quê?"

"Eu não quero que isto aconteça outra vez. Nem sei se chegou à sala. Tu confias em todos os pais que estão aí no colégio?"

"S. mas nem confio nem desconfio, acho natural que ele faça o percurso par a sala sozinho, não lhe faz mal, tens medo do quê?"

"Ah e se alguém agarra nele e o leva"

"S. ele está dentro do colégio..."

"Não concordo, já disse. É por isto que as coisas nunca correrão bem contigo, porque tu decidiste sem me consultar e isto é uma coisa com a qual não concordo!"

"Eu não decidi nada, foi ele que quis..."

"E se ele quisesse atirar-se a um poço!"

"..., apenas não o impedi porque não tenho medo que aconteça nenhum dos cenários que tu para aí descreves... mas tens medo do quê? Que ele se torne autónomo, qual é o teu receio de lhe dar autonomia, queres tê-lo sempre dependente de ti? O Pilas precisa de se tornar autónomo, percebes isso?"

"Isto não tem nada a haver com autonomia. Eu não quero que ele vá sozinho."

"Porquê? Ainda não me disseste do que tens medo..."

"Porque tu nunca sabes se ele chegou à sala."

"Ok, então vou falar com as educadoras e pedir-lhes que elas me acenem da janela quando ele chegar à sala para eu o deixar descansado e tu fazes o mesmo. Assim já sabes se chegou à sala... Pode ser?"

"Sim, assim pode ser."

"Como vês eu consigo falar, ouvir-te e até propor soluções que agradem a toda a gente, não basta dizer que não ou que sim, explicar as coisas ajuda. Assim podemos chegar a uma plataforma de entendimento. Como vês não será por mim que as coisas no futuro não correrão bem."

De tarde a R., a tua educadora, mostrava-se bastante favorável à tua nova autonomia e fazia uma cara estranha quando lhe contei que a tua mãe queria que elas nos acenassem da janela para dizer que chegaste, e eu disse-lhe "Também acho que não era necessário, mas se a mãe assim fica mais descansada, porreiro, porque assim não deixa de vir sozinho e isso é que importa."

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