sábado, 3 de maio de 2008

Casa vazia

Sabia que ia ser assim, ontem.

Na quinta-feira depois de uma tarde de grande actividade entre nós no seio dos amigos comuns do pai e da mãe, a mãe informou-me que ia levar-te para o Alentejo ontem e hoje.

Inicialmente disse-me que iria ao Alentejo hoje, quando eu tenho um compromisso que me roubará o dia todo, vou para a terra dos Pedros, SNA, a Braga.

Depois, quinta-feira, a mãe disse-me que iria ser diferente, perguntei-lhe quando é que o decidira, disse-me que tinha sido durante a tarde. Ok, nada que também não esperasse!

Ontem tive de trabalhar, saí de manhã e despedi-me de ti enquanto estavas a dormir, dei-te um beijo e susurrei-te ao ouvido "O pai ama-te muito!".

Faço isto muitas vezes, aliás, faço-o sempre que chego a casa e dormes ou sai-o de casa e dormes, a não ser que a mãe esteja deitada contigo o que, infelizmente, acontece todas as noites e algumas vezes de manhã.

Deixei-te ali e fui trabalhar, quando retornei do meu compromisso de Almada passei para o meu escritório e vi que ainda estavas em casa, nem hesitei, parei e fui dizer-te olá.

Recebeste-me com um sorriso imenso, o mesmo que sinto dentro de mim quando agora escrevo estas linhas, e um grande entusiasmo por ires passar tempo com o primo A. do Alentejo.

Tu recebes-me com grande euforia eu manifesto o meu contentamento por ainda te ver, desejo-te boa viagem e tu estás de sorriso imenso na cara, excitação de quem vai para coisas que gosta, ao teu lado uma cara fechada, que nem respondeu ao meu "bom dia!".

Aproveito que a mãe se afasta de nós e pouco e sigo-a para perguntar-lhe se sempre vêm Sábado. Responde-me que vêm ou Sábado ou Domingo, não sabe, ainda não pensou bem, depois logo se vê!

E eu respiro fundo por dentro, porque nem isso exteriorizei, e pensei como é injusto este poder de se ser mãe, de se fazer o que lhe dá na real gana, podia ao menos dizer quando regressa contigo.

Se fosse ao contrário, bom ao contrário não haveria porque eu seria incapaz de não dizer quando viria mas, se lhe fizesse o mesmo seguramente que ela detestaria.

Verificado que pouco mais retirarei dali, deixo-a e volto a ti a quem desejo um óptimo fim-de-semana e uma boa viagem. Abraço-te, beijo-te e despeço-me de ti com um sorriso rasgado tal como o teu. Desejo boa viagem à mãe e envio cumprimentos aos familiares dela, fico sem resposta.

Vou para o escritório onde trabalhei a tarde toda, depois chega a hora de regressar a casa, acordei ir jantar com uma amiga a Lisboa, vou levar-lhe um presente atrasado respeitante ao aniversário dela.

Chegado a casa a mesma está vazia, claro.

Falta o teu som, o teu sorriso, o teu correr para os meus braços, ou o teu olhar sorridente sem sair do sofá, ou a tua indiferença porque estás a jogar, ou a tua exteriorização de felicidade porque conseguiste superar um novo nível no jogo.

Faltas tu!

Apenas tu!

Sabia que ia ser assim, e este será o meu futuro próximo, e como eu desejo encerrar este ciclo, o meu futuro será este muitas vezes, chegar e encontrar o vazio, o silêncio.

Trato de ir fechar as pressianas das janelas uma a uma, quando vou fechar a do teu quarto a minha mão instintivamente passa pela tua almofada, muito ao de leve e acompanha o meu movimento... só reparo no gesto quando o mesmo está quase a terminar, quando a mão está a abandonar a almofada...

Fico a pensar nesse facto!

Mas, este silêncio não é o que habitualmente encontro quando chego e tu dormes e eu me encaminho ao teu quarto para te acarinhar, não! Este silêncio é mais profundo, exteriormente é o mesmo, mas este silêncio que oiço é um silêncio na alma...

Ontem a casa estava vazia, um dia a nossa casa vai estar muitas vezes vazia, mas filho sei que haverá dias em que conseguiremos encher a casa com a nossa felicidade e com o nosso amor.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado por te lembrares de nós quando o teu destino era Braga.
Obrigado pela consideração!
Espero que tenhas gostado.
Abraço.Pedro