quinta-feira, 8 de maio de 2008

Jantar

Ontem jantámos juntos.

Quando cheguei a casa da avó A. recebeste-me de largo sorriso nos lábios depois de me pregares um susto, com a colaboração do padrinho J., um verdadeiro susto porque desta vez não o fingi. :)

Depois brincámos na rua até o jantar estar pronto.

As quartas-feiras eram os dias em que íamos jantar aos avós paternos.

Ontem, foi diferente estar ali sem a mãe, dizer que eu não notei a diferença era ser hipócrita, mas a falta física dela fez-me apenas sentir aquilo que no fundo já esperava, e espero ir sentindo, que é a tristeza por se ter quebrado a familia tradicional, aquela que eu idealizei, aquela que eu mesmo quis, aquela que sustentei durante muitos meses, aquele porque lutei contra o que sentia ou intuia dever fazer, aquela que me consumia a energia e por vezes a felicidade.

Durante o jantar fizemos um brinde à saúde de todos. Depois à tua saúde. Depois à saúde já não me lembro do quê e depois houve outro que eu já não brindei porque era uma repetição e eu já não tinha liquido no copo e depois perguntaste:

"Pai, tu ainda gostas da mãe como amigo?"

"Sim filho, o pai gostava de um dia ser amigo da mãe, porque o pai não está zangado com ela!"

"Vocês já não gostam da minha mãe?" - perguntas para o geral e olhando para os avós.

"Não, nós gostamos da tua mãe, ninguém deixou de gostar dela." - diz-te o meu pai, o que a minha mãe reafirma.

"Então vamos fazer um brinde à mãe?" - dizes olhando para os avós

Como estava de copo vazio digo,

"Isso merece um brinde, mãe dá-me o sumo sff!"

Encho o copo e brindamos à saúde da mãe contigo a esboçar um largo sorriso.

Saímos de casa, comigo a olhar o relógio, com a missão de irmos dar os parabéns namorada do padrinho J., fazemo-lo e vamos a casa porque me pediste para ir buscar brinquedos para levar para casa dos avós.

Entramos em casa, troco de roupa enquanto escolhes o que queres, reparo quando chego próximo de ti que várias caixas já foram para a casa dos avós, o que é natural por duas razões, primeiro porque precisas de ter brnquedos contigo, claro, segunda, não reparei porque desde que estou sozinho só entro no teu quarto para tratar da tua roupa, custa-me sentir a tua ausência.

Quando entras no carro e eu te coloco o cinto dizes-me:

"Sabes pai" olho-te os olhos "o dia em que aconteceu aquilo foi o dia mais triste da minha vida!"

O meu coração estilhaça-se no chão em pedacinhos minúsculos,

"Eu sei filho, eu sei... Mas" olho-te na alma "quero que saibas filho que na vida como há luz e escuro, como há noite e dia, há tristeza e felicidade. Eu sei que foi um dia muito triste, foi para toda a gente..., se aceitares que há dias que são tristes, vais ver que há muitos que serão felizes."

Depois vamos pelo caminho para casa dos avós maternos onde agora vives, levas contigo o ringue de wrestling e os dois lutadores que te ofereci nos anos, penso se foi ao acaso que os escolheste, por apenas gostares deles, ou porque quiseste "levar-me" contigo para casa dos avós.

Deixo-te com os avós, sorriu-te, coloco-te ao meu colo, beijo-te a face e digo-te ao ouvido "amo-te muito filho, não te esqueças".

Fico contente por não ter chorado quando te deixei, mas não o evito agora que te escrevo...

2 comentários:

GE disse...

Quero deixar te uma palavra de força e coragem.

Gosto de te ler porque és o outro lado da história....eu conheço o meu lado mas o outro não.

Bjinhos, fica bem

Anathema disse...

Meu Irmão,
que o vento te leve as Velas para a praia da Alegria... sim, essa que é como as marés, que vai e que volta (é a Alegria dos marinheiros) ;)
Espero ser vento também; aquele que sopra para refrescar mas também afastar as incertezas com tempestade! Aquele que não se vê e que sopra não se sabe de onde...

Abraços3