quarta-feira, 21 de maio de 2008

Semana (em curta) revista

O PRIMEIRO "DIA SEGUINTE"
“Pai!” - chamaste-me.
Dirigi-me ao quarto e lá estavas tu, de sorriso rasgado, bem disposto.
“Dormiste bem não foi?”
“Sim pai e sabes, quero dormir contigo mais vezes!”
“Ainda bem, isso significa que gostaste mesmo de dormir comigo, eu não te disse que ias gostar?”
Estavas de bom humor, tomámos o pequeno almoço e tratámos de ir à piscina, não sem antes protestares, como é habitual alegando que não gostas de ir à piscina.
“Sabes filho é como dormir comigo, primeiro protestas, dizes que não gostas e depois gostas...” - mas isto não te convenceu e lá demorámos mais do que o desejado para te preparar.
Foste à piscina e para não variar saíste de lá a dizer que gostavas muito de ir à piscina.
Fomos ao parque e tratei de rumar a casa para fazer o almoço, não sem antes mandar um sms à avó materna a dizer que dormiras bem e estavas bem.
Depois fiz bacalhau cozido com batata, ovo, cenoura e couves de bruxelas. Temperámos com azeite e vinagre e o resultado foi,
“Está mesmo bom este peixe com os legumes! Eu gosto mesmo de legumes...”
Depois tratei de brincar um pouco mais e depois fui entregar-te à hora acordada, 16:00 horas.
Levo-te até ao 3º andar dos avós e da pequena troca de palavras percebo parte do stress de ontem, a avó perante o meu “correu tudo bem” diz:
“Pois e se não corresse o D. sabe que não é obrigado a dormir com o pai, só dorme se quiser e se não quiser o pai trá-lo aos avós.”
Não digo mais nenhuma palavra, calo-me apenas digo, Adeus e de ti despeço-me como sempre, um abraço um beijo e um “o pai ama-te muito”.
Saí e enquanto desço as escadas penso como foi idiota aquela mensagem que te transmitiram e como ela te condicionou em parte ontem. Fico feliz porque tudo correu bem, mas estou fulo com a frase da avó, vou respirando escada abaixo enquanto penso que o bom senso daquelas palavras é atroz, ou a falta dele.
Enfim filho, o mais importante aconteceu, dormiste e adoraste, a semente estava lançada.

DOMINGO - Promessas
Sábado ainda, ligo à avó A., a minha mãe e peço para dizer à tua mãe que te prometi levar ao último jogo do Sporting, e portanto se te podia levar.
A resposta é que sim, o jogo é às 20:15, a mãe diz que te entrega ao teu padrinho J., meu irmão, às 19:00 horas, penso, “porreiro, com o que eu conheço da S. chega às 19:30 ou mais”.
O padrinho recebe um SMS a dizer que a mãe só chega contigo às 20:00 horas, pensei, “Já está, não vamos entrar a horas...”
Chegas às 20:25 horas, o jogo já começou, recebo-te com imenso sorriso e ao mesmo tempo dizes-me “Pai posso dormir contigo???”
“Claro filho, podes dormir com o pai sempre que te apetecer, fico feliz porque o queiras!”
O padrinho indica-me que poderás dormir comigo basta depois passar por casa dos avós maternos, onde vives agora, para levar a roupa.
Entretanto dizes-me que foste ver GABRIEL O PENSADOR, dizes tu que foste a Braga, fico feliz por ti, desde bébé que gostas e desde aí que estávamos a tentar ir ver um concerto dele.
Parabéns, percebo que estiveste na primeira fila do concerto, até trazes uma palheta que te foi oferecida pelo guitarrista, dizes-me também que viste Jorge Palma, mas que quase não percebeste nada porque ele estava bêbedo... :) “Costuma estar sim senhora”, digo-te eu.
O Jogo termina e vamos apanhar roupa para o dia de colégio.
Vamos para casa e tratamos de fazer a rotina, ouvimos GABRIEL O PENSADOR, o DVD do show da MTV, que comprei há muito e vais-me contando promenores do concerto.
Deitamo-nos e embalamos depois de duas estórias para a noite de sono.
SEGUNDA-FEIRA
Acordas doente, a noite passou com o teu sono agitado, o passar de mão na cabeça dá-me ideia de estares a ficar doente... o acordar confirmou-o. Não vais para o colégio, entrego-te em casa do avô J., a mãe está também nas escadas à tua espera, digo “Bom dia!”, explico que dormiste bem, mas com sono agitado e acordaste com um pouco de febre. Entrego-te a ti e aos medicamentos que ainda estavam lá em casa. Mais tarde confirma-se que são novamente as anginas. Ligo para saber de ti e atende a mãe, dou-lhe as boas tardes e pergunto por ti, oiço que estás com febre alta e apático. Não é surpresa, surpresa foi o “temos de falar!”, “ok!”, combinamos para o dia seguinte, à tarde.
TERÇA-FEIRA
Ligo para saber de ti, o avô diz que estás bem, mas porque remédio está a fazer efeito, quando deixa de fazer diz-me que ficas apático e mole.
Penso o usual, menos mau!
De tarde encontro-me com a mãe e a conversa descamba, levo com o ódio que ela tem de mim, levo com juras de infelicidade, levo com punhos, sobram-me as feridas exteriores, mas preocupa-me mais ver o descontrolo da mãe, dói-me verdadeiramente vê-la sofrer, nunca o quis, longe, muito longe disso... penso como catorze anos de relação se esfumam na irrazoabilidade da dor e do ódio.
QUARTA-FEIRA
Abre-se um canal de comunicação, o e-mail. Aleluia!
Hoje diz-me que te vai deixar comigo, dá-me uma lista de coisas a resolver, respondo, peço para que pernoites comigo, como aliás me propusera enquanto conversávamos sobre a regulação da tua responsabilidade parental antes da separação. Responde-me que não e que nunca falou nisso.
Fico parvo... nunca falou... agora é o diz que disse ou o inverso, enfim... pergunto como vai ser da discussão da tua regulação de poder paternal, ou como eu prefiro, responsabilidade parental.
Resposta, “Em breve terás notícias.” ???
Fico parvo a olhar para a resposta sem perceber.
Tens um sarau de ginástica no colégio e eu e a mãe estamos pela primeira vez juntos depois da separação para um evento em que tu participas. Portaste-te lindamente e estás radiante.
Ficas comigo e vamos jantar com os avós.
Depois vamos para casa dos avós maternos e lá chegados perguntas pelo IRONMAN que te ofereci dos “happy-meal” do BurgerKing. Verificamos que te esqueceste dele e choras imenso, pedes-me para te apanhar o boneco e para deixá-lo lá. Digo-te que não o posso fazer, mas acordo contigo que no dia seguinte vou ao colégio deixar-te o boneco e assim até te dou um beijinho... acalmas, despeço-me de ti.
QUINTA-FEIRA
10:00 horas passo no colégio, não estás ainda, já lá devias estar à trinta minutos, mas como não estás deixo o boneco, peço para que te digam que estive mas não poude dar-te o beijo porque não estavas. Entretanto um almoço com uma amiga e colega de profissão dura até perto das 16:00 horas, não consigo ir ter contigo à hora de almoço e não vou àquela hora para não estar a interferir no espaço da mãe.
Recebo uma chamada da avó A. a pedir para ligar com urgência, ligo e informa-me que tu começaste a chorar mal a mãe chegou ao colégio porque te prometera um beijo e não te o dera.
A avó pergunta-me onde é que a mãe te pode deixar e eu digo no meu escritório, onde és deixado pela mãe que transmite um seco “venho apanhá-lo dentro de 30 mts” e se vira para ir embora.
Quando te vem apanhar peço para falar com ela e ela diz não querer falar, que é uma conversa de adultos, respondo que há de facto conversas de adultos que tu estás a ouvir, mas que esta nem a considero, explico-lhe o que aconteceu para que a mãe não fizesse nenhuma longa-metragem com os pequenos factos que motivaram o teu stress, sou brindado com um “é a segunda vez que estás a interferir nos meus tempos com o D., já o fizeste Domingo, hoje outra vez” brinda-me com mais umas palavras secas e duras, que oiço procurando pensá-las dentro de mim, tu vais mudando os videos do Youtube e eu vou tratando de não promover mais conversa, as coisas só podem piorar e se não era antes que me vias discutir, não será agora.
De noite em casa trato de convidar o L. a L. e a C. para jantarem connosco sexta-feira.
Faço soupa, feijão verde com cenoura; pastéis de bacalhau. Deito-me pelas 1:00 horas.
SEXTA-FEIRA e SÁBADO
Apanho-te no colégio, estás bem disposto, ficas a brincar enquanto eu vou falar com a Rita e vejo os teus trabalhos.
Depois apanho-te, vamos às compras ao hiper-mercado e depois tratamos de ir para casa.
Ao entrares em casa dizes,
“Já tinha saudades da minha casa!”
Tratamos de por a mesa, eu de fazer o arroz de feijão, jantamos com amigos e tratamos de depois ir ao parque da avó A. com eles.
Estás divertido e eu sinto-me bem por te poder partilhar com um casal amigo, no fundo terei pouco tempo contigo e tentarei ter tempo contigo a sós e outros em que nos partilharemos com os que eram habituais nos nossos dias comuns ou de fim-de-semana.
Não revelas qualquer stress por ires dormir comigo, pelo contrário, estás muito contente por estarmos juntos, eu também. A rotina do dormir corre cinco estrelas, tosta especial, sumo de manga, lavar dentes, xixi, duas estórias, dormir...
E dormes bem, até à altura em que te acordei para mais um dia de piscina, pelas 9:30horas.Vamos à piscina desta vez nem refilas um pouco apenas me dizes, “Sabes pai gosto muito da minha professora da piscina”.
Os avós paternos vão ver-te, este fim-de-semana não rumaram ao Alentejo, facto que motiva que almocemos com eles, salmão grelhado, batata e salada.

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