quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pernoitar ou não pernoitar, eis a questão!

Hoje (10 de Maio) competia-me apanhar-te no colégio, para depois ficares comigo até sábado, pelas 16:00 horas, era a primeira pernoita.

Acordei cedo, despertador para as 7:00 horas, deitei-me perto das 3:00 horas, o P. do Algarve veio cá e ficou comigo.

Bem vistas as coisas, esta semana deitei-me sempre tarde e acordei sempre cedo, e agora, que escrevo isto, penso que há diversos meses que durmo pouco. A razão deve ser simples, há muito tempo que decidi tomar as rédeas da vida e vivê-la, por isso, apesar dos momentos maus encontrei no gosto de viver e no gosto de viver melhor o meu carburante.

Acordei cedo para fazer sopa para nós, fiz uma que sabia que gostavas, naturalmente. Fiz sopa do Popeye, o mesmo é dizer sopa de espinafres.

De tarde fui apanhar-te ao colégio pelas 17:15 horas, chegado verifiquei que vocês se preparavam para ir para a rua e tu, depois de me receberes de sorriso e braços abertos, disseste-me que querias ir brincar, “claro filho, vai”, respondi-te.

Fiquei a falar com a R. que manifestou estar tudo bem, que tens estado muito bem, perfeitamente normal, fiquei contente por isso.

Depois de brincares um bom bocado começou a chover, foi a vossa debandada para dentro da sala, aproveitei e disse-te que íamos, dei-te o plano das festividades, irmos à biblioteca apanhar, filme e livros para depois lermos à noite.

Na biblioteca fizemos essas escolhas e jogaste PS2 ao “Ratchet e Clank 3” que adoraste.

Chegados a casa verifico que, por falta de ingrediente (salmão), não conseguia fazer aquilo que me pediste, “o peixinho com molhinho e arroz”, a minha invenção/receita que faz sucesso há já muitos meses.

Em substituição fiz uma massada de tamboril, com camarão e delícias, e estava deliciosa, a fruta de serviço foi “morangos com molhinho”.

Depois de lavares os dentes descobriste umas cartas do Yoco com jogos de memória com os temas de “animais”, “países”, “profissões” e “frutas”. Jogámos os três primeiros, o último já não jogámos, quando o íamos iniciar deixaste cair a bomba:

“Pai não quero dormir contigo, quero dormir com a mãe!” – perante o meu olhar e inacção – “eu gosto mais de dormir com a mãe!”.

“Já estás com sono filho?”

“Não, eu quero é dormir com a mãe, quero ir para a mãe!”

“Então vamos falar…” – e agarrei-te para te levar até ao sofá onde me sentei e te pus no meu colo para termos uma das nossas conversas de olhos-nos-olhos.

Perguntei-te porque é que não querias dormir comigo, porque é que não gostavas de dormir comigo, chamei-te a atenção para exemplos de dias em que dormiste comigo, quando a mãe esteve no curso, quando fomos os dois ao Alentejo e chegámos lá e estava mais frio do que dentro de um frigorífico. Mas tu, chorando a maior parte das vezes, respondias-me que “não quero dizer” ou então “quero dormir com a mãe”.

Eu sentia-me pequeno, de coração apertado, sem saber muito bem o que fazer e com dois pensamentos na mente, primeiro, que a mãe ao dormir contigo e ao não tentar, há muito tempo, desabituar-te de tal facto era responsável pela situação; segundo, sentia que hoje seria como a estória das birras, se a primeira tem como resultado a criança conseguir o que quer temos aí a fonte inesgotável de futuras birras, para mim deixar-te não dormir comigo hoje significava abrir um precedente que, provavelmente, te levaria a recusar, no futuro e durante muito tempo, as pernoitas comigo.

Choras várias vezes enquanto dizes não querer dormir comigo, dói-me a alma, abraço-te, acolhe-te, tento acalmar-te, mas eu próprio não estou calmo, estou ansioso. Estou a ficar sem perguntas, sem ideias, sinto-me a deixar de conseguir dar volta à situação.

Dizes sem chorar e sem fita, sabes que uma fita é tudo para já não alcançares o que queres, pelo menos comigo, baixinho e num tom suplicante: “Pai leva-me a casa dos avós por favor” – o meu coração estava pequeno, mas partiu-se nestes momentos, eu não era um homem de 31 anos a olhar para uma criança, EU ERA A CRIANÇA a suplicar com os olhos que aceitasses dormir comigo.

Sem soluções pensava que não te queria obrigar ou não queria fazer chantagem emocional contigo, mas tinha de dar volta à coisa, tinha que no mínimo mostrar como eu tinha imaginado fazer as coisas, no fundo dar-te uma ideia do que iria ser dormir comigo, isto ocorre-me em breves nanossegundos de pensamento, e enchi-me num sorriso e disse-te: “Bom fomos buscar um livro à biblioteca para ler, eu tinha ali um amigo novo que comprei para nos dar luz à noite, para quando dormisse comigo, queres conhecê-lo?”

Com um certo ar de espanto e outro tanto de curiosidade dizes-me que sim e vamos em busca do boneco que comprei no IKEA, verdade se diga há mais de um ano atrás.

Enquanto o tento procurar, porque não sabia onde estava, vejo que estás divertido com a minha busca, quando finalmente o encontro dou-to para as tuas mãos.

Tu gostas e digo-te, vamos ligá-lo, tens de fazer como se fazem com os supositórios, tens de pôr-lhe isto no rabo com cuidado, digo segurando o fio de alimentação do boneco.

Vamos para ligá-lo ao teu quarto e dizes, “Pai, posso levar para a mãe?”, respondo-te, “Não filho, muitas coisas podes levar para a casa da mãe, mas há coisas que não podes, este boneco é uma delas. Eu comprei-o para nós, para quando dormisses comigo.”

Chegamos ao quarto, ligamo-lo e achas giro, depois nem sei se trocámos mais alguma palavra se não, não me recordo, mas dizes:

“Afinal pai, quero dormir contigo!” – sinto-me ser salvo de morrer no afogamento da angústia emocional em que me sentia há momentos, verdade que desde que me enchera num sorriso pensara, “se tiver de ser será, se tiver de o levar levo”, mas, felizmente, não vou ter de te levar!Logo de seguida perguntas-me:

“Pai, podes fazer aquelas coisas assim fofinhas com açúcar e canela?”

“Fatias d’ovo?!?” – perante o teu hum-hum continuo – “posso filho, não tenho pão daquele que faz umas fatias d’ovo especiais, mas posso”.

“E para comer antes de deitar podes fazer-me uma daquelas tostas como a mãe faz com tudo?”

“Com queijo fiambre e banana?”

“Sim”

“Claro que sim”

Entretanto os teus olhos param num lego da Star Wars novo, que veio contigo do colégio, perguntas-me se podes montá-lo, digo-te que sim e vamos para a sala fazê-lo, melhor vais tu fazê-lo eu limito-me a supervisionar a coisa.

Montas o lego e tratamos de iniciar a rotina da dormida que corre super bem e divertida, comes (elogiando-me a tosta), lavas os dentes, ouves a estória “A Atlântida – o continente perdido”.

Dormes.

Acordo com o teu sono agitado, bem sabia que era uma pedra a dormir porque havia uma mãe sempre atenta e com sono leve, calculei que estivesse atento ao teu dormir.

Noto que procuras com os pés o meu corpo.

Vejo que estás com o sono irrequieto, olho as horas (3:48), passo-te a mão na cabeça, acarinho-te, sinto em mim um amor imenso, uma calma imensa e não sei se por isso se por outra razão qualquer, sinto-te a embalar e a sossegar o sono.

Desde então, e até agora, são 8:52 horas, estás a dormir, tenho umas fatias d’ovo para fazer, mas antes largo esta recordação da primeira noite comigo depois do pai e da mãe se terem separado.

Hoje será um grande dia!!!

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